dezembro 07, 2009

Acreditar e ser grata

Um dia desse eu estava conversando sobre esse negócio de explicação racional pras coisas... Desde a época em que fui fazer psicologia que algumas amigas se preocuparam em me ver perdendo a para ficar com a ciência, como se fossem incompatíveis. O fato é que, mesmo que você pense que tudo tem explicacao, chega uma hora em que, destrinchando as explicações ao nível mais elementar, em algum momento a explicação vai se limitar a um "é assim porque é assim". E quem fez ser assim?

E mais: se eu escuto algo de um filme que alguém deixou ligado e pensei que era alma, mesmo assim o fato de eu ter ouvido exatamente aquele trecho em particular não poderia ser uma mensagem pra mim em vez de mera coincidência? Talvez o que Jung chama de 'sincronicidade'.

Claro que, se vem um freudiano ou outro ser do tipo, diria "foi sua mente que projetou", mas, se eu não mando na minha mente (como aprendemos das feridas narcísicas), quem manda? Se fazemos coisas que não queremos, se dizemos que "não era eu, não sei o que me deu" porque o inconsciente tinha guardado e vieram à tona, por que algumas coisas ficam e outras não? E por que nos sonhos me surgem coisas que aparecem do nada depois, no dia que as sonhei? Mesmo que cheguemos à explicação dos arquétipos, não tem muita diferença uma marca-antiga (arquétipo) de um deus interior compartilhado.

Aqui eu poderia seguir falando da diferença entre 'tudo ter uma explicação' e 'tudo ter um motivo', mas não vou. Não quero teorizar agora, quero compartilhar experiências.

Eu já tentei não acreditar no que alguns chamam de coisas "esquizotéricas", até porque eu não vejo materializações de espíritos e porque tem muita coisa que me aconteceu que eu saberia facilmente explicar dentro das ciências não-ocultas, mas então me lembro de todas as outras que eu não explico/entendo e me volto novamente para o fato de que me sinto melhor acreditando. Sabe por quê? Porque não me sinto ingrata!

Tem coisas que são 'coincidência' demais, então ignorá-las me parece uma espécie de ingratidão. Imagina se você compra um presente para alguém e a pessoa vira para você e diz "ah, apenas coincidiu de você ter dinheiro e eu estar precisando e consequentemente gostar de ganhar" em vez de ela achar legal você ter se lembrado dela e comprado exatamente o que ela queria... Eu não quero dar uma de mal-agradecida com os deuses/ancestrais/daimons/etc que colocam as coisas no meu caminho.

Acredito que, mesmo que eu abandonasse o politeísmo, provavelmente ainda assim eu seria de algo dos moldes da conscienciologia, que não acredita em deuses mas acredita na consciência eterna, que você tem a mesma consciência que fica reencarnando e a qual é capaz de fazer muitas coisas sobrenaturais/inexplicáveis. E o engraçado é que eles não acreditam que um ser superior criou isso, é como se a consciência tivesse aparecido da evolução/ordem natural ou existisse desde sempre e pronto. Para algumas pessoas que conheço, é incompativel a ideia de um ateu que acredite em reencarnação, mas eu acho que compreendi o mote deles nesse aspecto.

Mas, enfim, o fato é que a vida sem um quê de mistério não faria sentido. A gente só comeria, dormiria, procriaria e bateria ponto no trabalho. Sem nada levar nem nada deixar. Que graça teria isso? Eu prefiro ser tomada por supersticiosa do que por uma ingrata descrente e desprovida de intuição e instinto. É uma escolha minha, um valor que carrego e, para mim, uma virtude.

Álex

IMAGEM: 'Pandora', de Jules Joseph Lefebvre (1882).

4 comentários:

  1. Adorei!
    O fiapo de fé que ainda tenho no fundo de meu agnosticismo, vem exatamente das questões da gratidão,da ESTÉTICA e da necessidade do lúdico...
    Que GRAÇA haveria? (GRAÇA, aí, com váááááários sentidos, claro!)
    BJS!

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  2. hahaha, amei! e vc é uma GRAÇA (em todos os bons sentidos)... ;D

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  3. Obrigada, simplesmente fenomenal.

    Obrigada por linkar meu blog, coloquei seu logo lá, espero ter leitores e comentadores como você.

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  4. Amooorrr...
    Amei seu texto. Pois é, nem sempre tudo é explicável... mas sim, vivenciavel. Num exemplo bem xulo tem certas coisas que são como a primeira vez de alguém... apesar do velho relato de "dói muito" rss cada um vive e experiencia a vida de maneira diferente e é aí que a maravilha a acontece... Enfim... adoro muito!

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